EUA acenam com aumento na cota de açúcar importado

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) deu indicações de que permitirá um pequeno aumento nas importações de açúcar do país este ano, decisão que pouco deve ajudar a debelar as queixas de processadores e fabricantes de doces quanto à escassez da oferta.
O secretário de Agricultura, Tom Vilsack, disse ontem que o departamento fará “alguns ajustes” na cota de açúcar, que está em vigor há décadas. Vilsack disse que ela pode aumentar em cerca de 24%, ou até 272.000 toneladas (300.000 toneladas curtas), a partir do atual nível de 1,12 milhão de toneladas, quantia que ele definiu como não significativa.
Alguns consumidores americanos de açúcar vinham pedindo um aumento de 1 milhão de toneladas nas importações. O USDA utiliza o sistema de cotas de importação para equilibrar a oferta e a procura de açúcar, mas muitos usuários dizem que as cotas os impedem, injustamente, de importar açúcar mais barato. Eles argumentam que as restrições deixaram o país sob o risco de ficar sem açúcar.
Enquanto isso, os produtores americanos de açúcar conseguiram bloquear os esforços para aumentar significativamente as importações, garantindo a pouca concorrência de preços.
A escassez de oferta faz com que os consumidores americanos paguem muito mais pelo açúcar do que o resto do mundo. Essa diferença chegou recentemente ao maior nível em dez anos.
Os comentários de Vilsack suscitaram a perspectiva de um aumento na demanda mundial de açúcar e elevaram os preços no mercado em 2,7%, para 16,98 centavos de dólar por libra-peso (US$ 18,72 por saca de 50 quilos). Nos EUA os preços caíram 2,1%, para 30,8 centavos de dólar por libra. Isso diminuiu a diferença entre os dois preços para 13,8 centavos de dólar por libra.
Um representante do USDA disse que “nenhuma decisão final foi tomada” sobre um ajustamento nas cotas ou sobre qualquer provável cronograma.
Adicionar 300.000 toneladas curtas é “um começo, mas não acreditamos que baste para nos fornecer suprimentos suficientes para todo o verão”, disse Tom Earley, vice-presidente executivo da Promar International, consultoria de alimentação e agricultura.
Os americanos consomem mais de 9 milhões de toneladas de açúcar por ano. A produção interna cobre cerca de 80% disso.
As importações vêm de cerca de 40 países sob um regime de cotas, e do México, que desfruta do acordo de livre comércio. Cada país tem uma determinada quantidade de açúcar que pode exportar para os EUA. O governo americano também agiu no mês passado para aliviar a pressão sobre os preços, deslocando algumas dessas quotas — tirando os direitos dos países que não exportam mais açúcar e dando-os a produtores como Brasil e República Dominicana.
Essa decisão deve aumentar as importações de açúcar em 117.000 toneladas este ano, afirma o USDA.
“Qualquer aumento nessa cota seria uma boa notícia para os fabricantes de doces americanos, que há meses enfrentam preços altos e pouca oferta”, disse Susan Smith, porta-voz da Associação Nacional dos Confeiteiros.
Jack Roney, economista-chefe da Aliança Americana do Açúcar, que representa os produtores, disse que a associação não vai comentar até que seja feito um anúncio oficial sobre o aumento das cotas.
Analistas acreditam que os EUA enfrentam uma escassez de açúcar.
Segundo o último relatório do USDA, o mercado interno ficará com suprimento equivalente a 42 dias de consumo no fim de setembro, contra 51 dias no ano passado.
Paul Ryberg, presidente da Coalizão Internacional do Comércio de Açúcar, que representa exportadores de açúcar de países em desenvolvimento, espera que o USDA chegue a uma decisão formal em breve.
“O tempo está se esgotando”, disse. “Realisticamente, eles só têm cerca de seis semanas para decidir se vão aumentar as cotas sem declarar uma escassez.” Em geral são necessárias semanas para os exportadores conseguirem enviar suas remessas aos EUA (The Wall Street Journal, 14/4/10)