Como deve ser uma boa recuperação de pastagens ?

foto21A degradação das pastagens dá um prejuízo enorme para o meio ambiente e também para o bolso do criador de gado.
O artigo técnico mostra uma planta brasileira cada vez mais usada para recuperar áreas degradadas no cerrado.

No Brasil existem hoje 100 milhões de hectares de pastagens em estágio de degradação. É uma área três vezes maior que o Estado do Mato Grosso do Sul. Os sinais da degradação estão por toda parte. São manchas de terra no lugar onde deveria ter pasto.
“A gente vê situações onde essas áreas vazias são muito maiores que as áreas cobertas. O que acontece você tem 100 hectares, mas você tem 50 de pasto ou até menos que isso. Áreas descobertas são sinônimos de erosão, são sinônimos de degradação de pasto.”, disse Celso Fernandes, agrônomo.

Em pastos degradados como esses, são necessários de três a quatro hectares para alimentar uma única cabeça de gado. Mas é possível virar esse jogo. Com uma técnica de recuperação simples e barata e um bom manejo é possível colocar até três cabeças em cada hectare e ainda melhorar o solo e reduzir os problemas de erosão.

E não se trata de nenhuma fórmula milagrosa e sim o resultado de uma pesquisa que levou 10 anos. O trabalho foi desenvolvido pela Embrapa Gado de Corte que fica em Campo Grande, a capital do Mato Grosso do Sul. Ela se baseia na introdução de uma planta da família das leguminosas, junto com os capins de braquiária, coloniões e outros: é o Estilosantes Campo Grande, nativo do Brasil. Como a maioria das leguminosas o Estilosantes capta o nitrogênio do ar e fixa nas raízes dentro de nódulos, deixando o nutriente disponível para a planta. Consorciado com as braquiárias e outras gramíneas, ele trás vários benefícios para o solo e para as plantas.

Para mostrar a extensão da raiz do Estilosantes, o Dr. Celso pediu para cavar uma trincheira. “Esta tem um metro, mas nós já vimos chegar até 1,50 ou 1,80 o sistema radicular desta planta. As raízes da braquiária pelo sistema que ela tem, a maioria fica próxima aos 30 centímetros e poucas aprofundam mais. Então, uma planta dessa sente mais a falta de água do que a planta do Estilosantes, já que ela busca água a grande profundidade. A medida que a planta do Estilosantes vai desenvolvendo, vai caindo essa matéria orgânica ao solo e aí então nós temos a reciclagem de nutrientes na superfície do solo e que a braquiária depois, com suas raízes, vai se beneficiar, principalmente do nitrogênio”, explicou o agrônomo. Quando perguntado se pode-se chamar de casamento perfeito, Celso Fernandes confirma e diz que as folhas da braquiária apresentam 47% a mais de proteína na folha no período de seca quando consorciada ao Estilosantes.

O Estilosantes pode ser cultivado em quase todas as regiões do país. Só não gosta de solos muito argilosos e nem de clima frio. Vai muito bem nos solos arenosos do cerrado onde são cultivados hoje, segundo dados da Embrapa, cerca de 200 mil hectares principalmente em consórcio com as braquiárias.

Vamos saber um pouco sobre a origem da cultivar estilosantes Campo Grande. Existe uma diversidade muito grande de estilosantes no Brasil. Na Embrapa, os pesquisadores cultivaram mais de 500 tipos diferentes para selecionar duas espécies: a macrocéfala, que é mais precoce e está em fase de produção de sementes, e a captata, que está em floração. “A gente não lança uma cultivar geneticamente uniforme e sim uma composição de várias linhas que são misturadas através das suas sementes e aí então a gente põe a chamada multilinha”, afirmou o agrônomo.

Um outro desafio da pesquisa foi selecionar plantas resistentes à antracnose, doença causada por um fungo que provoca essas lesões e que pode matar a planta. O fungo foi cultivado em laboratório e depois pulverizado nas mudas. Foram dezenas de testes até encontrar as plantas mais seristentes. Só então as sementes do estilosantes Campo Grande foram lançadas no mercado. Mas levou um bom tempo até que os pecuaristas acreditassem no Estilosantes.

Na fazenda Caiamã, no município de Campo Grande, cria gado da raça guzera e está tentando consórcio com estilosantes há dois anos.
O proprietário, Seu Chico Maia diz que descobriu o estilosantes quase por acaso. “Olhando na fazenda do vizinho, a minha que era bem formada, limpa, e eu olhava aquele mato sujo e pensava que o fazendeiro era descuidado. Mas uma coisa interessante é que onde tinha esse mato sujo o gado saía mais pesado. Estava confundindo Estilosantes com carrapichos, porque a aparência dele dá a entender que é isso. Mas aí estávamos em época de reformar pasto, fizemos uma reforma geral e colocamos Estilosantes junto com xaraés, que é um capim extraordinário também desenvolvido pela Embrapa e a braquiária”, contou.

Depois que brota no meio do capim, a recemeadura do estilosantes é feita naturalmente. Por isso, se vê as mudinhas novas de estilosantes surgindo nas falhas do pasto. “O espaço vazio fican sendo coberto pelos Estilosantes e aí então toda a sua área, toda a pastagem fica coberta de vegetação. Isso aí vai gerar o benefício, não só no aspecto de degradação de pastagem como também de melhor quantidade de matéria de forragem para os animais”.

Vamos visitar agora a fazenda do Seu Tochio Hisaeda, que já tem tradição no uso do consórcio entre a braquiária e Estilosantes. Lá, o engenheiro agrônomo Guilherme Beretta, está recuperando um pasto usando o Estilosantes Campo Grande. Primeiro ele deixou o gado rapar a braquiária bem rente ao solo. Depois passou uma grade para cortar as raízes do capim e agora vai semear o Estilosantes a lanço. São três quilos de semente por hectare.

O Estilosantes não é exigente em adubação mas é bom dar um reforço com fósforo, calcário e micronutrientes. Não é necessário semear a braquiária, como mostra o Guilherme Bereta, em outra área onde as plantas já germinaram. “Fizemos uma semeadura só do Estilosantes apostando que esse banco de sementes da braquiária voltaria. Sem o Estilosantes eu teria que fazer um investimento grande. Hoje uma reforma de pastagem é um custo caro na pecuária e nós temos minimizados bastante isso aí só com a introdução do Estilosantes. Uma reforma de pasto custaria entre R$ 500 e R$ 600 o hectare. O Estilosante hoje em dia, como não é exigente em solo, ficaria em torno de R$ 75 o hectare”, afirmou o agrônomo.

A fazenda gado waguil, uma raça européia pouco conhecida no Brasil. Animal que exige alimentação rica em proteína para produzir carne magra. “Além da parte aérea que é rica em proteína e consequentemente é transformada em ganho animal, nós temos notado também uma grande melhoria na estrutura do solo”, garantiu.

A pesquisa da Embrapa mostra que o ganho de peso dos animais aumenta em seis arrobas por hectare por ano.”Fazendo um comparativo, a braquiária seria o nosso arroz e o Estilosantes seria o feijão. O feijão é rico em proteína, então ele vai contribuir com a alimentação, com a fonte de proteína para o animal e com isso ele vai se desenvolver melhor, vai produzir mais carne”, disse Dr. Celso. Eles usam o Estilosantes também como cobertura do solo dentro dos pomares de tangerina poncã. “Primeiro, não queria usar nitrogênio químico. Segundo, tem muito material orgânico. Terceiro, ele não deixa o mato vir”, explicou Toshio Hisaeda, agricultor.

E ele plantou o Estilosantes no meio da cana. A máquina pica tudo misturado. A forragem é fornecida para a criação de porcos da raça sorocaba. Para os porcos adultos eles dão o Estilosantes puro. Seu Toschio diz que o Estilosantes brasileiro já atravessou fronteiras e é muito cultivado no Japão, na Austrália e na China. E foi lendo sobre a experiência dos chineses que ele soube das vantagens dessa forragem para os porcos e às galinhas. Ele diz que economiza de 10 a 15% de ração. Do Estilosantes também se produz feno de ótima qualidade. O teor de proteína na matéria seca fica muito próximo da alfafa, um dos alimentos mais ricos para os animais. Um vizinho do Seu Tochio tritura o feno até virar pó e mistura na ração dos avestruzes.

Vamos viajar agora para Chapadão do Sul, que fica quase na divisa do Mato Grosso do Sul com Goiás. Aqui vamos ver o uso do estilosantes na fazenda Ribeirão, que cria 41 mil cabeças de gado da raça aberdenn angus. Toda a boiada da fazenda passa pelo confinamento mas só nos últimos 70 dias antes do abate para fazer o acabamento. As outras fases de cria recria e engorda são feitas a campo. A fazenda Ribeirão começou a cultivar o Estilosantes Campo Grande há nove anos. Hoje, dos 24 mil hectares de pastagem da fazemda, 19 mil são consorciados com essa leguminosa.

Nós chegamos aqui em plena colheita de sementes de estilosantes. Serviço feito com as mesmas máquinas usadas na colheita da soja, bastando apenas fazer uma regulagem porque a semente do Estilosantes é bem menor do que a da soja. Além de colher a semente para fazer a renovação das suas próprias pastagens, a fazenda ainda tem um lucro extra, vendendo essa semente no mercado.

“Está nos sobrando aí um resultado de R$ 1000 por hectare, um bônus a mais em dinheiro, que isso é importante no bolso so agricultor. Essa massa que sobra significa que ele está deixando de matéria seca, 14 toneladas por hectare. Nós podemos ver a umidade embaixo desse solo, mesmo nesse período de seca. E a temperatura do solo baixa. Nós estamos economizando na renovação da pastagem e usando a leguminosa 450 quilos de uréia, que é o nitrogênio, por hectare. Se nós considerarmos que hoje uma tonelada de uréia está em R$ 330 dólares a tonelada, nós estamos tendo o benefício na faixa de R$ 130 dólares por hectare”, contou Edson Luiz Rocha, gerente da fazenda.

Na fazenda Ribeirão, a renovação das pastagens com a leguminosa também é feita com uma plantadeira de soja. O sistema é o plantio da semente diretamente na pastagem, sem revirar o solo. As mudinhas nascem em uma área mais velha. “Nosso sistema que a gente utiliza é baixar bem o pasto antes do plantio (não fazendo nenhum aplicação, de nenhum produto químico, apenas com a boca do boi). Isso favorece o estabelecimento da leguminosa porque o crescimento inicial dela é mais lento que da gramínea. Então é preciso dar uma judiada na braquiária para o Estilosante ter condições de se estabelecer. É uma tecnologia relativamente barata e simples de fazer. É mais fácil plantar leguminosa do que soja”, afirmou Edson Luiz Rocha. “Fazemos análise de solo e vai a fertilização, especialmente fósforo, que é um nutriente”, completou.

Desde do início o trabalho da fazenda Ribeirão foi monitorado pelos pesquisadores da Embrapa Gado de Corte. Todos os dados conseguidos ao longo do tempo pela fazenda Ribeirão com esse consórcio estão armazenados no computador da Rosa Schunke, agrônoma, que inclusive fez um gráfico mostrando a sustentabilidade da pastagem. O gráfico mostra o resultado de quatro anos de pesquisa medindo a matéria seca de duas pastagens: a linha de cima, de cor verde, representa o consórcio com estilosantes e a marrom a braquiária solteira.

Ambos iniciaram o primeiro ano com três toneladas de matéria seca por hectare com a mesma lotação animal e terminaram o quarto ano com medições bem diferentes. O consórcio manteve as três toneladas e ainda ganhou mais 800 quilos de matéria seca por hectare. Já na braquiária solteira a queda foi brutal, terminou com apenas 1 tonelada por hectare. “O que chama mais atenção é que ao longo do tempo nós percebemos que a braquiária não requer reformas com é preconizado nos manejos tradicionais. Pelos nossos resultados, nós estamos há oito anos trabalhando em cima desse experimento e nós temos ainda uma pastagem sustentável. Talvez ao longo do tempos, quem sabe mais oito anos, ela possa vir, demonstrar sinais de declínio, mas vai depender muito do manejo”, disse Rosa.

O manejo inclui uma adubação a cada dois anos para repor os nutrientes. E uma rotação de animais na área para evitar pisoteio exagerado. Um gasto pequeno se for computada a economia com uréia, melhoria do solo, a renda com a venda das sementes, uma maior lotação por área. E além disso um ganho de peso 27% maior por hectare se comparado com o pasto solteiro.”Nós conseguimos fazer uma pastagem de boa qualidade, com um pistema sustentável, sem estar precisando tirar dinheiro do bolso. Porque está no ar, fixa e ele se torna renovável”, disse Edson.

Se você quer mais informações sobre o estilosantes, peça um folheto com este aqui, que vem com um pacotinho de sementes, pra teste. A distribuição é gratuita. Anote o endereço:

Embrapa Caixa Postal 154, Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Cep: 79.002-970.