Potencialidades de utilização da casuarina equisetifolia em reflorestamentos

avestruzPorMaria das Graças Rodrigues Ferreira, pesquisadora da Embrapa Rondônia

Introdução
A Casuarina equisetifolia é uma espécie da família casuarinaceae e o nome Casuarina dado a este gênero, é derivado de Casuarius (casuario), devido à semelhança de seus ramos pendurados com as plumas desta árvore de grande tamanho, parecida com a avestruz (BARROSO, 1983).
É conhecida com os seguintes nomes: she-oak, beefwood, casuarina, pinus australiano, Filao, Bois de fer, eisenhol, kenlenbaum, agoho (Filipinas), casuarina (Brasil) (LAMPRECHT, 1990).
As casuarinas compreendem um grupo de cerca de 80 espécies de arbustos e árvores que são primariamente nativas para o hemisfério sul, a maior parte para a Austrália, onde ocorrem em regiões tropicais, subtropicais e regiões litorâneas temperadas assim como no interior seco. Poucas espécies são nativas para áreas do Indo-Pacífico da Malásia Peninsular para Polinésia (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, 1984).
Embora a Casuarina equisetifolia seja originalmente uma espécie litorânea, frequentemente usada para estabilização de dunas, ela também é encontrada no interior até uma altitude de 1500 m. Nesse habitat natural, a temperatura média anual é de 20°C e a precipitação anual varia de 700 a 1200 mm. Entretanto, a Casuarina equisetifolia tem sido estabelecida sucessivamente em áreas com precipitação anual de apenas 300 para 400 mm (AGROFORESTRY TODAY, 1991).
O valor calorífico de seu carvão, 7181 kcal/kg, está entre os mais altos de qualquer espécie de lenha (BARROSO, 1983).
Os arborígenes australianos usavam a madeira de casuarina para fazer bomerangues e os colonizadores europeus para fazer assentos. Na Austrália, a mesma é utilizada em construções rurais como cercas, mastros e remos, cangas, bengalas, entre outros. Na Austrália ocidental, a madeira de casuarina é comercialmente aproveitada para pernas de piano, telhas, compensados e esquadrias (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, 1984).

DESENVOLVIMENTO
1. Significado do nome científico
O nome genérico foi inventado por Rumphius em 1650 e aplicado por Lineu. Ele se refere aos galhos filamentosos, baixos, os quais assemelham-se a plumagem do pássaro cassowary (espécie casuarium). A pronúncia australiana “caz-yew-a-runa” parece preferível a “caz-yew-a-rye-na”, embora ambas sejam usadas. Em 1982, o taxonomista L.A.S. Johnson prôpos a divisão da família casuarinaceae em quatro gêneros:Casuarina, Allocasuarina, Gynosperma e um gênero ainda anônimo (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, 1984).
2. Condições ecológicas dos locais de origem
Se extende em regiões com estações secas consideravelmente longas, onde a área do subsolo é aproveitável, porém prefere boa drenagem e não se desenvolve em solos argilosos e encharcados (FAO, 1959).
A Casuarina equisetifolia coloniza regiões com precipitação anual entre 700 e 2.000 mm. Desenvolve-se bem em áreas onde consegue contato com o lençol freático a 3 m de profundidade, mesmo com um índice de precipitação anual próximo aos 300 mm. A temperatura anual fica em cerca de 18 a 26°C, sendo que a média do mês mais frio tem de situar-se em torno dos 10°C. É pouco tolerante a geada (LAMPRECHT, 1990). Essa é uma espécie de interesse para climas tropicais e subtropicais. Embora não seja resistente a geada, ela tolera uma larga amplitude de temperaturas.

3. Dendrologia
As árvores de Casuarina equisetifolia são altas, vigorosas, de fuste reto e não muito cilíndrico, com reentrância na base: alcançam de 25 a 40 m de altura e entre 40 e 50 cm de diâmetro, embora possam ultrapassar estas dimensões. A casca é de cor pardo claro, um pouco lisa nas árvores jovens, logo se torna áspera e acanalada e se desprende em tiras finas: a parte interior é de coloração castanho avermelhado, de sabor amargo e adstringente.
As folhas de casuarina são rudimentares, sem clorofila, escamiformes e verticiladas: medem mais ou menos 0,8 mm de largura. Pequenos ramos pendentes, flexíveis, articulados, finos (medem, aproximadamente, 1 mm de diâmetro), acanalados, de cor verde escuro, assemelham-se a folhagem nestas plantas. Estes pequenos ramos, de 12 a 35 cm de comprimento, tem articulações ou nós separados entre si entre 5 mm e 10 mm. Em cada articulação há entre 6 e 8 folhas rudimentares. Os pequenos ramos contém clorofila e funcionam como folhas realizando a fotossíntese e elaboração de alimentos necessários para a planta .
As casuarinas são espécies monóicas, possuem flores masculinas e femininas na mesma árvore: porém, apesar disto, algumas árvores só produzem flores masculinas e outras somente flores femininas. É frequente observar algumas árvores que dão a impressão de que estão secando e o que realmente acontece é que se encontram em plena floração masculina. As flores masculinas são pequenas, de cor castanho claro e se apresentam em grupamentos terminais estreitos e cilíndricos, de 1 cm a 2 cm de comprimento e pouco menos de 0,5 cm de diâmetro: cada uma delas está formada por um pequeno estame e 2 escamas. As flores femininas estão dispostas em inflorescências capitulares de pedúnculos curtos, e são ligeiramente sésseis: são laterais, esferóides, medem pouco menos de 3 mm de diâmetro e estão localizadas nas axilas dos raminhos, cada flor contém só um pistilo com o estilete de cor roxo escuro, em forma de hilo.
O fruto assemelha-se a um cone: com tamanho de 1 a 2 cm x 1 a 1,5 cm, e compõe-se de pequenas câmaras que, ao abrir-se, liberam minúsculas sementes aladas (LAMPRECHT, 1990).
As sementes das casuarinas são pequenas e aladas. As de Casuarina equisetifolia medem de 3 a 5 mm de comprimento e são de cor castanho claro (BARROSO, 1983).
A madeira de Casuarina equisetifolia é de cor pardo claro rosado, uniforme, sem diferença apreciável entre alburne e cerne: em algumas árvores o cerne é de coloração castanho claro (BARROSO, 1983). A madeira apresenta acentuada contração. Não resiste as intempéries nem é durável. É de impregnação relativamente fácil e, com este tratamento, pode ser igualmente empregada para obras em contato com a água. A dureza da madeira é tal que, para introdução de pregos, se faz necessária uma perfuração prévia (LAMPRECHT, 1990).
Na Índia ela é usada como andaime e membros de estrutura para edifícios, assim como para mastros de barcos de pesca rústico. No Egito as casuarinas são utilizadas como quebra-ventos e zonas de proteção de uma maneira tão excessiva que preocupa os agrônomos (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, 1984).
A madeira de casuarina é um excelente combustível, o qual é o seu principal uso, embora seja ocasionalmente usada para postes, vigas e estacas para postes. De bela textura, a madeira pode ser utilizada em interiores, mobiliário decorativo e revestimento de paredes. Mas seu uso como lenha e carvão vegetal de alta qualidade tem uma importância ainda maior. Também pode ser transformada em palanques e postes ou processada, como madeira de fibra curta, para produção de papel (LAMPRECHT, 1990).
A casca, contendo até 18% de tanino, produz uma tinta vermelha e é aproveitada também para fins medicinais.


4. Extração de nutrientes do solo em plantios homogêneos

Nódulos da raiz abrigam bactérias fixadoras de nitrogênio. Quando as sementes são plantadas fora de sua área natural, o solo deve ser inoculado com nódulos esmagados de áreas naturais (GOOR, 1968). Trata-se, portanto, de uma espécie melhoradora do solo. Por outro lado, os galhos mortos caídos são de difícil decomposição, impedindo, assim, o desenvolvimento de sub-bosque (LAMPRECHT, 1990).
5. Propriedades físicas e mecânicas da madeira
A madeira de casuarina apresenta as seguintes propriedades físicas: peso específico 0,60g/cm3, umidade em seco 11%, dilatação da água durante 2 h, 17%, absorção durante 24 h, 68%. Propriedades mecânicas: módulo de ruptura 85-105 kg/cm2.
6. Pragas e doenças
Inicialmente, as árvores tem pouca habilidade para competir com ervas daninhas, especialmente em grama densa coberta. Sementes são vulneráveis ao ataque por formigas, grilos e outras pragas. As árvores são suscetíveis à podridão das raízes.
Brocas da madeira e das gemas apicais, tais como o Zenzera sp e a Hypsipyla robusta, podem causar danos graves em alguns casos. Diversos coleópteros e larvas atacam as “folhas”. Ferimentos da casca podem acarretar infecções derivadas do fungo Trichosporum vesiculorum, considerado o causador da principal doença da casuarina. Em povoamentos da India já se registraram, por sua causa, perdas superiores a 75%. A espécie é considerada relativamente tolerante ao cupim mas revela-se, sobretudo na fase juvenil, muito vulnerável à ação do fogo (LAMPRECHT, 1990).

7. Potencial de reflorestamento no Brasil e no mundo
A casuarina tem um sistema radicular profundo, usado para controle da erosão e aperfeiçoamento de solos degradados. Essa é também uma característica valiosa para agrofloresta porque as árvores não competem fortemente com as produções adjacentes por nutrientes do solo ou água nas camadas de solo mais superficiais (AGROFORESTRY TODAY, 1991).
No litoral os eucaliptos são a melhor espécie para crescimento rápido, porém em solos arenosos a casuarina dá melhor resultado apesar de seu fuste ralo (KAUL, 1970).
Essa espécie é largamente plantada em todos os continentes, em regiões climáticas favoráveis, para quebra-ventos, ornamentação de ruas, conservação de solos e fixação de dunas (GOOR, 1968).
A Casuarina equisetifolia, é uma espécie muito valiosa para reflorestamento de dunas costeiras nas zonas tropicais, porém não brota suficientemente de cepa nem de raiz e raras vezes proporciona uma disseminação adequada depois do corte, pelo que, a princípio, é necessário reflorestar artificialmente com um custo considerável (FAO, 1959).

CONCLUSÕES
A Casuarina equisetifolia é uma espécie litorânea, que também se desenvolve bem em regiões com estações secas consideravelmente longas. Embora não seja resistente à geada, tolera larga amplitude de temperaturas. É plantada em todos os continentes, sendo utilizada em quebra-ventos, ornamentação de ruas, conservação de solos e fixação de dunas: apresenta madeira com alto valor calorífico, sendo utilizada principalmente como combustível. Suas raízes abrigam bactérias fixadoras de nitrogênio e seu sistema radicular profundo permite que a espécie seja eficientemente utilizada para melhorar as características físicas do solo.
A Casuarina equisetifolia é uma espécie de grande potencial para regiões tropicais e subtropicais, devendo ser aproveitada com sucesso na recuperação de solos degradados e controle da erosão.

LITERATURA CONSULTADA
AGROFORESTRY TODAY – October-december 1991. vol. 3. Number 4. Casuarina enhances fruit-tree production on an arid site in India by T. B. Allolli et allii.
BARROSO, A.B. Silvicultura especial de arboles maderables tropicales. 1983.
DALE, I. R. A descriptive list of the introduced trees of the Uganda protectorate. Entebbe, 1953.
FAO (Roma, Itália). Métodos de Plantacion de bosques en el Africa Tropical. Roma, 1957. (FAO.Cuaderno de fomento forestal,8).

FAO (Roma, Itália). Eleccion de espécies arboreas para plantacion.Roma, 1959. 375 p. il. (FAO. Cuaderno de fomento forestal,13).
GOOR,A.Y., BARNEY,C.W. Forest tree planting in arid zones. New York: Ronald Press,1968. p. 295-296.
KAUL, R.N. Afforestation in arid zones. Hague: J.Junk. N. V., 1970. 435 p. il.
LAMPRECHT, H. Silvicultura nos trópicos: ecossistemas florestais e respectivas espécies arbóreas – possibilidades e métodos de aproveitamento sustentado. Eschborn: GTZ, 1990. 343 p.
MIDGLEY,S.J., TURNBULL, J.W., JOHNSTON,R.D.1983. Casuarina, ecology, management and utilization. Proceedings of an international workshop. Camberra, Austrália. 17-21. CSIRO- Melbourne.
MOSELEY, M. F. Comparative anatomy and Phylogeny of the casuarinaceae. Bot. Garden, 27, 110:231-280. 1948.
NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES. Casuarinas: nitrogen fixing trees for adverse sites. Washington, DC: National Academy Press, 128 p. 1984.
TROUP, R. S. et al. Exotic forest trees in the British empire. Oxford. 1932.
WEBB, D.B., WOOD,P.J., SMITH, J. 1980. A guide to species selection for tropical and subtropical plantations. CFI Tropical Forestry Papers. No 15, Oxford.
WOODALL,S.L., GEARY,T.F. Identity of Florida Casuarinas. Forest Service, May, 1985.

Maria das Graças Rodrigues Ferreira
Pesquisadora Embrapa Rondônia
E-mail: mgraca@cpafro.embrapa.br